29 de novembro de 2015

+QP: Caminhos

//



clock..clock..clock..

Me deito na cama onde nós dois estávamos hoje de manha. Meu travesseiro ainda tem seu cheiro. O doce aroma. Eu ainda consigo lembrar das palavras que ele sussurrou pra mim. Varias vezes ate eu conseguir dormir. " Eu te amo", " Vai ficar tudo bem", " Vamos passar por isso juntos", " Vamos seguir caminhos iguais, estaremos juntos pro que der e vier". 
- O que aconteceu?
- Nada demais. Posso entrar?
Eu me afasto da porta e deixo ele entrar. Mas antes vejo que ele esta segurando uma mochila. To achando que o pai dele o expulsou de casa. Eu o convidei pra morar comigo, caso isso acontecesse. E Acho que ele aceitou.
-Senta no sofá, irei pegar algumas coisas pra poder limpar seu machucado.
-Matheus, espera.. precisamos conversar.  - Sua voz esta falha. Esta nervosa.. ele está nervoso.
Eu continuo andando e vou ate o banheiro pegando as coisas para poder limpar seu curativo e volto para sala. Me sento de frente pra ele. Vejo seus olhos me encarando. Alguma coisa aconteceu. A Conversa foi feia pela visto.
- Pode deixar, não é nada demais.
Ele fala quando me aproximo pra poder limpar, mas eu bato em seu braço.
-Para de ser tão orgulhoso e me deixa limpar isso.  Podemos conversar enquanto eu faço isso. O que aconteceu?
Ele fecha os olhos com força quando eu passo um pano molhado perto de seu machucado.
- Eu falei sobre nós dois com meu pai. Ele não levou muito bem.
Ele ri e fecha os olhos mais uma vez quando eu termino o curativo.
- Então.. você vai vir morar comigo?   - Estou sorrindo, eu sinto muito pelo o que aconteceu com ele e o pai. Mas estou feliz por não mostrar juntos. Ir ao cinema como namorados e não como amigos, andar de mãos dadas. Esses pequenos detalhes. Mas quando eu fico sem resposta, meu sorriso se desfaz.
- Sinto muito.. Meu pai falou que se eu quiser morar com ele, ficar com ele. Eu terei que te deixar. Terei que deixar tudo isso pra trás.
- " Tudo isso" você quer dizer eu.
- Sim..não.. Não sei. Eu quero terminar a faculdade. Eu não tenho emprego.  Ele é minha única opção.
-Não! Ele não é! Podemos dar um jeito nisso, podemos superar isso juntos.  - Levanto assutado. Não posso perder ele.
-Matheus, eu não posso largar tudo.
-Mas você pode me largar. - Falo tão baixo, que nem mesmo eu escutei.
-Eu sinto muito. - Ele se aproxima, mas eu não deixo o empurrando.
-Vai embora!
- Eu trouxe suas coisas.. elas estavam lá em casa. Eu sinto muito mesmo...Talvez nós dois devemos seguir caminhos diferentes.
-Sai da minha casa! - Eu grito o empurrando contra a parede. - Nunca mais apareça aqui.
- Nós ainda podemos ser am..
-Amigos? NÃO! Nem isso eu quero de você. Agora saia. Você é um covarde. Você tem tanto medo de se mostrar, com medo de o que as pessoas vão pensar de você. Você é um covarde.
- Eu só não aguento...
- Não aguenta o que? Ser chamado de princesinha? Menininha?Bixona? Eu não me importo, sabe porquê? Por que qualquer que seja o apelido, eu sei muito bem quem eu sou. Você não, você é apenas uma pessoa que ainda não sabe o que significa a palavra " EU sou.." Agora sai.
E Por um momento, minhas pernas fraquejam ao ver ele siando pela porta. Mas antes, ele para e se vira pra mim com os olhos vermelhos. E Sussurra " Vamos seguir caminhos diferentes" antes de ir embora. E Isso faz com que meu mundo desabe. Me sento no sofá e a única coisa que se passa na minha cabeça foi essas quatro palavras. "Vamos seguir caminhos diferentes". Eu apenas queria seguir um caminho, o caminho da felicidade. Mas acho que vai demorar... Por enquanto irei seguir o caminho da solidão.



Escuto as batidas do relógio em minha parede. Ele ainda não chegou. São nove e cinquenta e sete da noite, ele falou que estaria aqui as nove. Já se passa cinquenta e sete minutos e a cada minuto eu olho para o relógio. Vou ate a janela pra ver se ele esta vindo, mas a única coisa que vejo é a escuridão pairando sobre as ruas.  Já tentei ligar para ele, mas cai na caixa postal. Mandei mensagem, mas ele não responde. Eu não posso ir ate a casa dele, pois sei que ele esta conversando com o pai. Sei o quanto isso é importante para nós dois. Porem, ele devia me mandar uma mensagem, para que eu fique mais calmo. 

Uma batida na porta em assusta, não notei que cai no sono. Pego o celular e vejo que são três e cinco da manhã, e tem uma mensagem do Carlos. " Abre a porta"   Levanto rapidamente e destranco a  porta abrindo. Sorrio  ao olhar seu cabelo todo bagunçado, mas logo paro de sorrir ao ver seu rosto. Parece que ele esta com um machucado ao redor do olho esquerdo. Alguém bateu nele.



x-x-


Esse conto faz parte do Projeto MAIS QUE PALAVRAS. Todo mês selecionamos um tema para desafiar nossa escrita. Participe do nosso grupo no Facebook clicando aqui. 

Nenhum comentário

Postar um comentário